segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A morte de Alfredo - Parte 1.

Alfredo era um homem comum. Vivia sob a frustração dos desejos não realizados. Almejava virar artista, mas por obrigação familiar virou um crítico literário chato, do tipo que não publica nenhuma obra porque passa a maior parte do tempo na análise dos livros de outros. 
Chegou a cogitar a carreira de jogador de futebol, porém, além da idade avançada, devia ter começado a praticar o esporte quando adolescente, afinal era um completo perna de pau.
Ao fim, veio a grande vontade de virar um homem sedutor, contudo, sem as características biológicas valorizadas e a preguiça dominante para carregar peso, optou por continuar na sala com seu notebook.
O princípio da mudança surgiu quando ao ficar gravemente doente Alfredo notou estar isolado no mundo. Sem ninguém para ajudá-lo a comprar os remédios ou fazer uma sopa de legumes fortificantes o personagem dessa história decidiu que tal situação seria a última da sua vida. Ao ficar curado a transformação começaria.
Já com saúde Alfredo foi ao oftalmologista e largou definitivamente os óculos. Matriculou-se numa academia e consultou uma nutricionista. O mais difícil foi mudar o guarda-roupa, sem contatos próximos para lhe dar dicas buscou inspiração em Geeks, New Nerd's, Hipster e Indies. Também reduziu sua carga horária de professor para produzir seu romance, um livro de crônicas eróticas.
Em dois anos Alfredo bombou e ganhou a alcunha artística de El Toro.
Como tal virou personalidade badalada, com agenda lotada, grana, influência nas artes e, sobretudo, vaidoso. A soberba tomou esse homem que contava uma nova história a cada pergunta sobre suas origens, vida e inspirações.
Faltava, em sua visão, somente uma mulher para estampar em sites, revistas e jornais sua nova fase. Conheceu, então, Luiza, a âncora do conceituado Brasil Notícias.
Transformação completa, El Toro agora partia para sua primeira viagem internacional com o objetivo de divulgar seu segundo livro e curtir a lua de mel. Todavia, antes de embarcar no avião um grupo de jornalistas e fotógrafos o indagaram acerca do novo viral das redes sociais. Sem nunca tê-lo visto, El toro respondeu que nada poderia falar, prontamente, um dos profissionais pegou o celular e lhe mostrou um vídeo no qual sua esposa aparecia transando com o âncora do jornal Esportes Interview no camarim da Rede Xô Telecomunicações.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um homem sem medo.

Havia pouco mais de um mês e, finalmente, ganhara a liberdade acompanhada de um gosto de independência. Corpo e mente estavam em harmonia, a leveza o tomava por completo.
Familiares e amigos curiosos buscavam compreender aquele estado de espírito tão raro de estar, faziam perguntas eloquentes, mas se frustavam com  a história sempre tão simples.
Em uma manhã de domingo ensolarado o homem decidira ir a Praça da República, observou as famílias, os hippies, comerciantes e, sobretudo, as crianças.
Foi inspirado nelas que encontrou a solução para sair do abandono amoroso que se encontrava.
Na época de tal epifania buscou aventuras pelas ruas. A intenção era pegar coragem  alcoólica e chegar junto.
Esquema tático simples: tomar um porre e seduzir uma nova mulher, todavia o resultado foi 0 x 0 no clássico gênero hétero.
Não desistiu e ampliou a meta: tomar um porre, dançar e seduzir. Novamente um desagradável empate sem gols. No entanto, como torcedor flamenguista que era conseguia pensar positivamente e considerar a fase boa, mesmo quando está por baixo. Um rubo negro nato.
Decidiu, portanto, mudar um pequeno detalhe: não ficar tão porre, dançar e seduzir uma mulher. Quanta diferença! Jogo de muitos gols em ambos os lados, mas vitória feminina por força da natureza: 4 x 3.
Na partida os times se entregaram totalmente e  foi um belo encontro de técnica e vontade. Sobrou somente para o campo que utilizado em toda sua extensão ficou com a grama "bagunçada".
Acordou na manhã seguinte satisfeito, mas com a sensação de "não é exatamente isso".
Arriscar-se corajosamente como faziam as crianças ao pularem das pedras da Praça foi um excelente plano, contudo, a fase infantil já estava longe, como adulto sabia que seu Everest tinha outra escala.
Ainda no domingo fez, então, sua grande escalada.
Pegou o celular e algumas chamadas depois deu os parabéns e bom dia . Desse modo, virou um homem sem medo de ficar só.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Não é mais uma neura.

13/09/1986

- Sinceramente já deu. Sério! Não to brincando. Tá tudo bem. Foi só um lance, do tipo que dura alguns meses, mas é casual. Eu estou de boa.
- Não me convences.
- Não posso fazer nada se não acreditas em mim.
- Ok, então.

Silêncio...

- E amanhã? O que faremos?
- Não sei, o que propuseres tá bom.
- Agora vais fazer doce?
- Porra já vai começar de novo!
- Vai te fuder! Já estou cansada desse teu joguinho.
- Que caralho de jogo! Eu só disse para decidires sobre o amanhã.
- Sabe de uma coisa pega esse amanhã e enfia no ...

15/09/1986

Jornal Notícia Matutina
Caderno: Fofocas mórbidas

Foi velado hoje o casal que na madrugada do dia 13 colidiu um Chevette numa das frondosas mangueiras da Avenida Nazaré (já decorada para o Círio de Nazaré).
Amigos e parentes próximos lamentavam e choravam pela morte prematura de grandes companheiros.
Contudo, a irmã da noiva disse que a tragédia veio em boa hora, pois devido a um caso extraconjugal os enamorados vivam em constante briga. Desse modo, não há mais neuras.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sem camisinha.




Era famosa por ser a melhor prostituta. Sua habilidade na cama marcava a vida de diferentes homens. Estava nas palavras dos poetas, em sambas de compositores, nas aulas de biologia de professores e, sobretudo, na boca e mão de homens machistas.
Alguns contavam vantagem ao falar de como o tamanho do seu membro dava o maior prazer a Prostituta. Outros alegavam ser a maior vontade dela encontrar um homem carinhoso, com dinheiro o suficiente para tirá-la do quarto amarelado com móveis de brechó para mostrar-lhe o mundo.
Todos enganados. Nenhum daqueles homens sabia profundamente do universo reservado daquela mulher. Muito menos do amor e romance da Prostituta com seu amigo de infância. Entre ambos nada era secreto.
Consciente da vida pública de sua companheira aquele homem magro, de feições razoavelmente atraentes e barba por fazer nunca se queixou da escolha feita: ser uma sombra.
Adorava ir ao bar na esquina da rua onde residia para ouvir as façanhas da Prostituta na noite anterior. Enquanto os homens gritavam aos quatro cantos sobre a melhor trepada de todos os tempos, o companheiro somente ria.
Certa vez, quando proseavam no calor das três horas da tarde o membro do companheiro ficou rígido ao perceber o desejo nada latente, a companheira o acariciou no pescoço, ele, por sua vez, colocou a mão na parte de dentro das coxas dela para, em seguida, puxar a calcinha de lado e massagear com os dedos os lábios inferiores. Ela, então, inclinou-se e o chupou com voracidade. As preliminares ainda seguiram por alguns minutos, quando já despidos e ao ponto da penetração ela disse: a você me entrego sem camisinha.

domingo, 18 de agosto de 2013

em doses equilibradas

I

amizade
não sustenta
relação
se não tiver
tesão
cai fora meu irmão.

II

não pedi sexo
disse - um abraço
se não for companheiro
sai fora tarado.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

domingo, 11 de agosto de 2013

Tristesa palhaça


Todo domingo a palhaça ia ao lado da sua trupe na grande praça da capital. Ali Tristesa atraía o olhar disperso de empresários, empregadas, professores e dos donos do pedaço, os moradores de rua.
Certa vez, numa das tantas apresentações que Tristesa fazia com esmero e alegria, tal como foi a primeira vez, seus olhos encontraram na platéia transeunte um moço. A idade estava entre os vinte e cinco e trinta anos, bem no estilo meio rapaz, meio homem. O rosto com a barba cheia, o cabelo cortado e sorriso largo.
Conforme Tristesa fazia o público encontrar gargalhadas inibidas pelo fluidez do centro da cidade, pensava em como chamar o moço para dentro dela, para a palhaça que fazia das suas dores um motivo para estar ali, com tantos outros amargurados, a rir.
Já nos meados da atuação decidiu usar o momento da dança para ficar frente a frente com o moço. Numa primeira instância houve a recusa, mas, incentivado pelo casal de amigos, o rapaz se levantou e em pouco tempo os dois dançavam.
Nos rápidos minutos que estiverem juntos Tristesa encontrou a alegria sem peruca, nariz de palhaço, roupa pintada ou botas furadas. O rito do encantamento estava completo, porém, tão logo o êxtase veio, tão cedo foi. A música encerrou, a peça chegou aos momentos finais, todos levantaram e partiram.
Uma semana depois enquanto se preparava para mostrar sua palhaça, um jornal veio com o vento aos pés da atriz. Curiosa pegou para ler a edição do dia anterior, o moço havia falecido. Motivo fútil, briga de bar.
Foi novamente estar com Tristesa, para a felicidade geral da grande público, sempre passageiro.

Um amor companheiro quando mudar de endereço

Um amor companheiro
para ver sorrir
depois do beijo
dar um abraço
após a cama
e lembrar do cheiro
quando mudar o
endereço.

sábado, 10 de agosto de 2013

Faxina

Assumimos nossa sujeira
façamos algumas ligações
marcamos alguns encontros
trocamos palavras inteiras
chega de disse não disse
fez não fez
Tudo cozido
nada cru
E pronto
Já estamos na mudança
da faxina.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Apologia a sobrevida da Fênix

É na morte
e renascimento
cotidiano
que vem a mudança

Façamos, portanto,
uma apologia a Fênix

Esfolada por servir de exemplo
a nossa sobrevida.

andré badé.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Quero divórcio

Pedi o divórcio
veja bem
não acabou o amor
quero somente o fim
da ausente convivência
vai que de repente
você repara em mim.

andré badé

Havia um carro no meio da calçada


Havia um carro no meio da calçada
na verdade
havia carros por toda a calçada
nunca esquecerei dessa minha vida de andanças
por cidades urbanas
onde há carros no início, meio e fim das calçadas


andré badé